"O criador é aquele que faz avançar a história da moda" - Didier Grumbach

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cristóbal Balenciaga

Figura 1 - Cristóbal Balenciaga


A pureza das linhas, a audácia dos volumes e o rigor arquitetônico poderiam estar em qualquer passarela de alta-costura dos dias atuais. E, na verdade, estão. A quantidade de estilistas que hoje estão se inspirando, reeditando ou simplesmente copiando os modelos de Cristóbal Balenciaga atesta: no mundo da moda, efêmero pela própria natureza, só os grandes atingem a atemporalidade.

Até recentemente, seu nome era reconhecido apenas pelos especialistas ou pelos saudosistas. Embora tenha dividido com Christian Dior o palco dos anos dourados da alta-costura, do pós-guerra ao começo da década de 60, ele aparecia muito menos.

Figura 2 - Look de Balenciaga


Foi o concorrente famoso, porém, que o chamou de “o mestre de todos nós”.

Corte e costura no sentido literal: ele era exímio – e ambidestro – no manejo das tesouras e das agulhas.

Nascido na pequena cidade basca de Guetaria, filho de pai marinheiro e mãe costureira, Balenciaga já tinha nome firmado na Espanha quando, aos 42 anos, se mudou de mala e manequins para Paris – e marcou para sempre a história da moda. Ex-patrão e mentor de André Courrèges e Emanuel Ungaro, amigo de Hubert de Givenchy, foi celebrado por todos os seus pares como o ápice da perfeição na confecção, na forma e na simplicidade, sua maior aspiração. Balenciaga morreu em 1972 e, como em tantos casos similares, a marca que deixou entrou em decadência acelerada.

Figura 3 - Look Balenciaga


Menos conhecida do que grifes como Dior ou Chanel, foi resgatada da irrelevância com a contratação, em 1996, de um jovem de apenas 25 anos, Nicolas Ghesquière. Considerado um dos maiores talentos, talvez até o mais brilhante, da moda atual, ele reconduziu a grife Balenciaga à vitrine das marcas modernas, copiadas e cobiçadas.

Numa entrevista recente, Ghesquière rememorou o “caminho tão abstrato” que ele e outras estrelas do modernismo, como Helmut Lang, Jil Sander, Yohji Yamamoto e os demais japoneses, trilharam nos anos 90. “Agora vejo que era um conceito totalmente Balenciaga”, acrescentou.

Figura 4 - Look Balenciaga


Tal como, para os argentinos, Carlos Gardel canta cada vez melhor, para os admiradores de Balenciaga o costureiro basco fica cada vez mais moderno. Uma doce ironia, levando-se em conta que ele se inspirava em quadros de Velázquez e Zurbarán, tinha no ateliê prateleiras repletas de revistas de moda do século XIX, das quais era capaz de reproduzir modelos linha por linha, e finalmente foi engolido pelas gigantescas transformações sociais desencadeadas em meados dos anos 60.

Hoje praticamente qualquer babado gigante, caimento sinuoso ou bolero ibérico que se vê nas passarelas deve alguma coisa a Balenciaga.

Figura 5 - Look Balenciaga


Conhecido por ser capaz de disfarçar corpos não tão em forma, ele costumava combinar um forro bem justo ao corpo, como uma segunda pele, com roupas mais soltas, de caimento perfeito. Excepcional conhecedor do coupe, o corte do tecido, Balenciaga foi ao mesmo tempo criativo e comportado, ousado e elegante, sofisticado e simples.

E, claro, carésimo. “Dior vestia as ricas; Balenciaga, as milionárias”, escreveu o historiador inglês Paul Johnson em seu último livro, Os Criadores. “Suas roupas eram, acima de tudo, confortáveis, um fato surpreendente, considerando-se sua grandeza, sua complexidade e a magnificência dos materiais usados.”

Em 1967, quando a onda da contracultura varria o planeta, o estilista encerrou seu desfile com um magnífico vestido de noiva composto de uma única costura. Seis meses depois, mais uma coleção, e fim – o mestre, diante de um mundo que não era o seu, fechou o ateliê. Em menos de cinco anos, estava morto. “De todas as pessoas criativas que encontrei, Balenciaga foi a mais dedicada à criação de coisas belas”, escreve Johnson.

Figura 6 - Vestido de noiva Balenciaga


“Balenciaga deu à mulher uma forma mais ousada, mais conceitual”, analisa a estilista Clô Orozco, da Huis Clos, fã do trabalho do costureiro que inventou, entre outras modernidades, o vestido-saco, a saia balonê e o casaco com manga de quimono e que sempre fazia ele mesmo, do começo ao fim, um vestido preto entre os cerca de 200 modelos de cada uma de suas coleções.

“Ele inventou o minimalismo na moda, com a idéia de movimento na depuração das formas”, avalia Ghesquière, que terá vinte modelos na exposição que ajudou a montar e na qual Balenciaga brilha no lugar que merece.

Década de 50 - A Revolução Jovem

Figura 1 - Jovens dos anos 50


A década de 50 rejeita os valores estabelecidos durante a Guerra em matéria de arte, desenho e moda. O advento Pop Art, dá- se no início dos anos 50. Os artistas pop´s se lançaram de corpo e alma à comercialização da nova cultura, sobretudo a americana. A economia dos Estados Unidos floresce no pós-Guerra, encorajando e impulsionando os mercados de consumo de roupa. Os avanços das fibras sintéticas como o nylon, chega aos Estados Unidos após a guerra e outras matérias como O Banlon, o orlan, práticas e usáveis, redimensionam a face da moda.

O Rock'n'roll explode os sons dos Estados Unidos e sacode o mundo na metade dos anos 50 arrebatando um bando de adolescentes. O estilo masculino muda de uma maneira inesperada. Em 1954 o terno "Teddy Boy" se confunde desde já com o "New-eduardiano". Pela primeira vez os adolescentes vestem o que não é ditado pelos pais e pela primeira vez a moda vira um fenômeno da juventude.


Figura 2 - O estilo Teddy Boy


A liberação da mulher e sua entrada no mercado de trabalho produtivo entusiasmava os consumidores. As roupas se tornaram práticas, algumas como as de jovens tiveram origem no Sportswear americano, como as calças cigarrettes.

Audrey Hepburn, Marylin Monroe e mais tarde, Brigitte Bardot, foram às musas inspiradoras mais copiadas. Vários eram os looks das estrelas: o short, o decote canoa, os tomara-que-caia, vestido saia-balão, maiô helanca, a linha trapézio, o tailleur, a linha tubo.


Figura 3 - Modelos da época


A música de Elvis Presley, suas roupas coloridas, sua dança enérgica e sensual, se transformam na linguagem de todos os jovens rebeldes dos anos 50. Pela primeira vez um gênero musical consegue se transformar em agente e veículo de uma violenta transformação no modo de vestir, pensar e agir de milhões de jovens. Os jeans que transformavam o comportamento dos adolescentes dos anos 50 se eternizam pelo sentido democrático de vestir jovem. Os jovens do mundo inteiro se identificam imitando as roupas "denim" e os couros de James Dean e de Marlon Brando.

Figura 4 - Marlon Brando


Em Paris, Dior apresenta as coleções mais sofisticadas e elaboradas. Em 1951 ele cria a linha "Princesa". Em 1954 a linha H. As linhas A e Y em 57, ao mesmo tempo que o primeiro vestido "chemise". Chanel reabre sua maison em 1954, fechada desde 1938. Suas linhas clássicas fazem oposição ao estilo Dior. É o momento que se assiste ao declínio do prestígio da

alta-costura e o grande desenvolvimento do prêt-a-porter.

Figura 5 - Croqui de Dior


Fazendo do erotismo uma arma de conquista, Hollywood lança uma nova safra de stars que estilhaçam os limites da moral dos anos 40 : Gina

Lolobrígida, Sophia Loren e Jayne Masnfield. Enquanto Carmem Miranda, "a pequena notável" também explode nas telas.

Figura 6 - Sophia Loren


Mary Quant desponta no cenário com sua loja Bazaar atendendo a demanda de roupas jovens. Novas revelações no modo de vestir: o look beatnick. Inspirado na moda das ruas, ela própria inspirada em astros da música e uniformes de gangues. Os beatnicks resultam de uma mistura de influências da margem esquerda parisiense e dos jazz-men americanos. Enquanto isso as indústrias de roupas prêt-a-porter iam ficando cada vez mais fortes. Até os costureiros franceses estavam se voltando para este foco, com isto a alta- costura começou a perder terreno.

Figura 7 - Beatnicks

domingo, 11 de setembro de 2011

ETNO FASHION

De onde surgem as tendências?

É uma pergunta que sempre me fazem. Elas surgem a cada nova estação e podem influenciar as pessoas ou não. Algumas chegam a durar várias temporadas, enquanto outras sequer dão o ar da graça.

Qualquer manifestação de caráter artístico está diretamente ligada a um processo de inspiração. Na moda isso acontece de forma muito interessante, pois os criadores buscam e bebem em várias fontes para se inspirar e produzir sua obra final. As opções são muitas, podem ir desde uma viagem a um lugar exótico, até uma overdose fashion, com releituras de várias épocas em um só visual.

Hoje vamos falar sobre uma maxitendência, que há muito tempo mexe com a imaginação das pessoas e vem se fazendo presente nas coleções de tantos designers pelo mundo afora: o Etno.

Os elementos étnicos se baseiam no conjunto de características marcantes, hábitos e crenças de um determinado grupo racial ou etnia. Costumes, tradições, folclore e trajes são algumas das principais representações do estilo étnico. O vestuário, através da moda, absorve estas simbologias e promove uma reinvenção desses conceitos. Estampas, padronagens, texturas, bordados e elementos artesanais, são utilizados com ênfase por novas tecnologias têxteis e resultam em modernos padrões estéticos e visuais.

O Brasil possui uma rica diversidade cultural, formada por descendentes de europeus, negros, índios e mais recentemente de imigrantes asiáticos. Essa mistura de etnias propiciou a criação de uma nova cultura, fundamentalmente marcada por contrastes. Um bom exemplo para ilustrar a tendência etno no Brasil é a influência indígena na moda. A herança cultural dessa etnia é, sem dúvida, um grande exponencial de nosso patrimônio histórico, pois além de ser nosso ponto de partida, contribuiu significativamente para a formação cultural do país. Mais da metade da população indígena do Brasil está localizada nas regiões Norte e Centro-Oeste, principal mente na área da Amazônia Legal.

A riqueza natural amazônica atrai olhares de todo o mundo, devido à sua exuberante fauna e flora. Dela se conseguem extrair muitos elementos que podem adquirir formas e utilidades diversas. Existe atualmente, um grande investimento das indústrias de cosméticos, que fabricam produtos de estética, tendo na composição frutos e vegetais, oriundos da floresta. Babaçú, andiroba, açaí, cupuaçu, dentre outros estão presentes na fórmula de cremes, shampoos e colônias, representando além de fragrâncias exóticas, uma alternativa ecologicamente correta e um modelo de sustentabilidade a ser seguido.

No passado, os índios já detinham o conhecimento sobre muitas das propriedades destes elementos. Sabiam, por exemplo, que o urucum, além de ser excelente para produzir tinta e pintar o corpo, possuía ainda substância que protegia a pele dos raios solares. Uma bela proteção natural UVA/UVB, não?

Outras influências merecem ser destacadas, como o hábito de pintar o corpo, que acabou dando origem à técnica da tatuagem, conforme a conhecemos hoje. Embora não seja exclusividade dos índios brasileiros, esse costume ainda inspira muitas pessoas. Uma sutil comparação pode também ser feita aos apetrechos usados, por algumas tribos, como os alargadores e piercings, tão comumente encontrados no streetwear de grandes cidades.

Os índios também são ótimos artesões, produzem acessórios confeccionados com plumários e penas de aves exóticas e coloridas, como os cocares, adornos e trajes, muito comuns em nossos eventos populares, como o Carnaval e o Festival de Parintins. As bijouterias com aplicação de sementes e pedras ou penachos são hits e conferem um ar de brasilidade ao visual. Também vale destacar as cestarias, feitas com a palha do buriti,que são tendência no setor moda casa e decoração.

Com tudo isso, é impossível não se render à riqueza cultural, que temos em mãos, para se inspirar e criar.

Imagens:

Suyane, desfile m-officer

Tatuagem indígena /tatoo moderna

Urucum ou outros frutos citados

Acessório indígena - brinco ou colar ou adorno de penas