"O criador é aquele que faz avançar a história da moda" - Didier Grumbach

domingo, 11 de setembro de 2011

ETNO FASHION

De onde surgem as tendências?

É uma pergunta que sempre me fazem. Elas surgem a cada nova estação e podem influenciar as pessoas ou não. Algumas chegam a durar várias temporadas, enquanto outras sequer dão o ar da graça.

Qualquer manifestação de caráter artístico está diretamente ligada a um processo de inspiração. Na moda isso acontece de forma muito interessante, pois os criadores buscam e bebem em várias fontes para se inspirar e produzir sua obra final. As opções são muitas, podem ir desde uma viagem a um lugar exótico, até uma overdose fashion, com releituras de várias épocas em um só visual.

Hoje vamos falar sobre uma maxitendência, que há muito tempo mexe com a imaginação das pessoas e vem se fazendo presente nas coleções de tantos designers pelo mundo afora: o Etno.

Os elementos étnicos se baseiam no conjunto de características marcantes, hábitos e crenças de um determinado grupo racial ou etnia. Costumes, tradições, folclore e trajes são algumas das principais representações do estilo étnico. O vestuário, através da moda, absorve estas simbologias e promove uma reinvenção desses conceitos. Estampas, padronagens, texturas, bordados e elementos artesanais, são utilizados com ênfase por novas tecnologias têxteis e resultam em modernos padrões estéticos e visuais.

O Brasil possui uma rica diversidade cultural, formada por descendentes de europeus, negros, índios e mais recentemente de imigrantes asiáticos. Essa mistura de etnias propiciou a criação de uma nova cultura, fundamentalmente marcada por contrastes. Um bom exemplo para ilustrar a tendência etno no Brasil é a influência indígena na moda. A herança cultural dessa etnia é, sem dúvida, um grande exponencial de nosso patrimônio histórico, pois além de ser nosso ponto de partida, contribuiu significativamente para a formação cultural do país. Mais da metade da população indígena do Brasil está localizada nas regiões Norte e Centro-Oeste, principal mente na área da Amazônia Legal.

A riqueza natural amazônica atrai olhares de todo o mundo, devido à sua exuberante fauna e flora. Dela se conseguem extrair muitos elementos que podem adquirir formas e utilidades diversas. Existe atualmente, um grande investimento das indústrias de cosméticos, que fabricam produtos de estética, tendo na composição frutos e vegetais, oriundos da floresta. Babaçú, andiroba, açaí, cupuaçu, dentre outros estão presentes na fórmula de cremes, shampoos e colônias, representando além de fragrâncias exóticas, uma alternativa ecologicamente correta e um modelo de sustentabilidade a ser seguido.

No passado, os índios já detinham o conhecimento sobre muitas das propriedades destes elementos. Sabiam, por exemplo, que o urucum, além de ser excelente para produzir tinta e pintar o corpo, possuía ainda substância que protegia a pele dos raios solares. Uma bela proteção natural UVA/UVB, não?

Outras influências merecem ser destacadas, como o hábito de pintar o corpo, que acabou dando origem à técnica da tatuagem, conforme a conhecemos hoje. Embora não seja exclusividade dos índios brasileiros, esse costume ainda inspira muitas pessoas. Uma sutil comparação pode também ser feita aos apetrechos usados, por algumas tribos, como os alargadores e piercings, tão comumente encontrados no streetwear de grandes cidades.

Os índios também são ótimos artesões, produzem acessórios confeccionados com plumários e penas de aves exóticas e coloridas, como os cocares, adornos e trajes, muito comuns em nossos eventos populares, como o Carnaval e o Festival de Parintins. As bijouterias com aplicação de sementes e pedras ou penachos são hits e conferem um ar de brasilidade ao visual. Também vale destacar as cestarias, feitas com a palha do buriti,que são tendência no setor moda casa e decoração.

Com tudo isso, é impossível não se render à riqueza cultural, que temos em mãos, para se inspirar e criar.

Imagens:

Suyane, desfile m-officer

Tatuagem indígena /tatoo moderna

Urucum ou outros frutos citados

Acessório indígena - brinco ou colar ou adorno de penas