"O criador é aquele que faz avançar a história da moda" - Didier Grumbach

sábado, 14 de janeiro de 2012

Geração Beat

Beatnicks


Estar em movimento. Eis o principal objetivo da Geração Beat, grupo de jovens intelectuais americanos que, em meados dos anos 50, cansados da monotonia da vida ordenada e da idolatria à vida suburbana na América do pós-guerra, resolveram, regados a jazz, drogas, sexo livre e pé-na-estrada, fazer sua própria revolução cultural através da literatura.

O termo Beat, usado para classificar a nova geração, é de origem controversa. Jack Kerouac, principal escritor do movimento, queria que o termo fosse uma abreviação de beatitude (mesmo significado em português), enquanto outros, principalmente os críticos e estudiosos, atribuíram tal denominação à influência direta do jazz, principal fonte de gírias e novos termos da contracultura da época. Da soma do radical beat com o sufixo do satélite russo Sputnik , que havia sido mandado ao espaço em 1957, surge a palavra beatnik, usada para designar dali em diante todos os seguidores do movimento. 1957 foi também o ano da publicação de On the Road .

On the Road , de Kerouac , foi o marco milhar deste movimento que, como nenhum outro na história, recebeu imediata e completa cobertura dos meios de comunicação de massa, elevando à celebridade escritores até então obscuros, oriundos dos dormitórios das faculdades de Nova Iorque, São Francisco e Califórnia, jovens que lutavam para publicar seus primeiros trabalhos. Esta amplificação imediata e de costa-a-costa exauriu completamente o conteúdo e a voz do movimento por um processo que se tornaria muito comum nas décadas seguintes do século XX, a saturação da mídia (basta lembrar da declaração de Andy Warhol sobre os 15 minutos de fama), restando nos dias de hoje do grande "boom" de três anos e dezenas de livros, poucas obras de qualidade artística inquestionável. Apesar desta saturação, a mensagem dos beatniks "a revolução na linguagem e nos costumes" só repercutiria decisivamente sobre o comportamento dos jovens americanos uma década mais tarde com o aparecimento das primeiras comunidades hippies no final dos anos 60.

A geração Beat foi composta basicamente por homens, que podiam ou não manter relações sexuais entre si, fato, porém, de secundária importância, uma vez que o principal objetivo desses escritores era estar em conjunto, desfrutar de parceria nas viagens, tanto físicas quanto psicotrópicas. Pode-se dizer que esse prazer de estar entre amigos, essa espécie de prolongamento do sentimento colegial de fazer parte de uma turma, de estar para sempre entre grandes camaradas foi a tônica do discurso literário, o leitmotiv de toda a Geração. Atente para o terrível sentimento de perda desta comunidade nas palavras do poeta Allen Ginsberg na famosa introdução do poema O uivo :

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, (...)

Esta idéia de desmantelamento inevitável, primeiro dos indivíduos e depois das relações interpessoais, é muito bem expressa nas palavras do crítico americano Eric Homberger :

"A literatura dos Beats é sobre o laço de amizade entre homens, sobre a afetuosidade entre eles, sobre a tristeza da descoberta de que o amor e a paixão fenecem. Todo o resto - o zelo pela religião oriental, o flerte com o Existencialismo, a fascinação pelos sonhos, o radicalismo político, a paixão pelas drogas, a liberdade sexual - era meramente decoração de uma complexa rede de relacionamentos pessoais".

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito legal, Thiago! Tem um filme muito bonito que fala do início do movimento, com a Courtney Love e Kiefer Sutherland. O título original é "Beat", mas no Brasil se chamou "Anos Loucos".
Gustavo Medeiros