"O criador é aquele que faz avançar a história da moda" - Didier Grumbach

sábado, 30 de junho de 2012

Óculos, para quê te quero?


A história dos óculos começa por volta de 500 a.C. com algumas referências em textos do filósofo chinês Confúcio. No entanto, como suas lentes não tinham graus, durante  séculos eles foram usados apenas como adorno, ou como forma de discriminação social, principalmente para os doentes mentais.

As primeiras lentes corretivas surgiram no século I d.C. e pedras semi-preciosas como o berilo e o cristal de rocha cortadas em camadas finas foram as primeiras lentes de aumento para perto. Mais tarde, passaram a ser usadas sobre os olhos e se transformaram na primeira forma de lentes corretivas.


Reprodução do primeiro par de óculos encontrado na Alemanha no século 13



O primeiro par de lentes, com aros grandes de ferro unidos por rebites, foi descoberto na Alemanha em 1270. Parecido com um compasso, permitia que fosse ajustado.

Ainda no mesmo século, um modelo semelhante foi criado em Florença e fez bastante sucesso. Por isso, os italianos ganharam fama como os inventores dos óculos. Porém, foram necessários mais dois ou três séculos de pesquisas para que se conseguisse um modelo seguro e confortável.

No século 15, os modelos Pince-nez e Lornhons eram os mais usados. O primeiro não tinha hastes e era ajustado apenas no nariz. Já os Lornhons vinham com uma haste lateral para ser colocado em frente aos olhos.



Pince-nez do século 16


As hastes fixas apoiadas sobre as orelhas só surgiram no século 17, mas mesmo assim os modelos sem hastes continuaram a ser usados até o início do século 20, quando então foram sendo substituídos pelos modelos Numont, com aros superiores ou inferiores finos e leves. Sua versão mais moderna é sucesso até hoje.


Modelo do século 19, banhado a ouro


O uso do plástico e seus derivados na fabricação de armações e o avanço da tecnologia para a produção de lentes melhores e mais finas, ampliaram muito as possibilidades do design de óculos em geral. Atualmente é possível encontrar uma enorme variedade de modelos em muitos materiais, tamanhos e cores. Alguns tipos curiosos como um óculos-leque de tartaruga mostram como se disfarçava a necessidade dos óculos em festas e reuniões nos séculos 18 e 19.

Óculos leque de tartaruga


A partir dos anos 30, todo o conceito na fabricação dos óculos mudou. Eles passaram a ser mais leves e elegantes. Nos 60 e 70, uma revolução aconteceu com o surgimento dos plásticos e também por influência da moda pop e irreverente da época.

Modelo original de André Courréges anos 60


Os clássicos Ray-Ban que faziam parte dos acessórios militares desde antes da Segunda Guerra e que mais tarde foram adotados por estrelas do rock, como Lou Reed e Bob Dylan, são muito usados ainda hoje.  Os modelos "gatinho" começaram a ser usados no final dos anos 40 e viraram moda nos 50.

Modelo pop dos sixties que foi capa de várias revistas da época




Modelos decorados com strass dos anos 70





Modelos Ray-Ban






Modelo gatinho



Estilo, sofisticação e glamour são fatores que podem ser encontrados nos  óculos contemporâneos. Alguns modelos retomam  clássicos da década de 60, investindo em modelagens mais arrojadas e alinhamento moderno.  Modelos maiores, com armações coloridas e bem descontraídas, cobrem boa parte do rosto e proporcionam um ar de glamour a face. As armações tradicionais nas cores marrom, preto, branco e cinza estão sendo decoradas com pedraria, um efeito estético que faz a diferença no quesito moda óculos escuros. Ponto também  para as opções que são extremamente práticas, como os novos modelos flexíveis e com lentes à prova de danos.



O modelo Butterfly - queridinho das celebridades


A revolução tecnológica e os  modelos dobráveis


Febre! O revival do modelo Ray-Ban









quarta-feira, 27 de junho de 2012


Entrevista com Glória Kalil




por RITA OLIVEIRA

* Entrevista com a consultora de moda e estilo  Gloria Kalil

1- A moda já lhe rendeu dois best-sellers. Por que você resolveu falar de etiqueta?

Gloria Kalil - A preocupação com a aparência tomou uma proporção exagerada. Agora estou dizendo aos leitores: "Chega de imagem, cuidem da sua segurança interna". Além disso, percebi que atrás de cada pergunta de moda há sempre uma questão maior: "Que ritual é esse para o qual eu não sei como me vestir?" Muito da insegurança vem da falta de informação e de convívio social. Hoje, a família nem se reúne mais em volta da mesa de jantar. Todo mundo corre demais, cada um tem um horário, esquenta o prato no microondas, come em frente da TV...


2- As crianças não têm com quem aprender?

Gloria - Não, porque era durante as refeições que os pais ensinavam o básico do comportamento e da ética. Naqueles momentos, diziam: "Senta direito, olha o cotovelo na mesa". Ou então: "Seu amigo dedurou um colega para o professor? Isso não se faz, é muito feio". O mundo mudou, a transmissão informal de conhecimento diminuiu e hoje reina a falsa impressão de que não existe regra alguma. Bobagem. Os códigos precisam ser revistos, o que não significa que é possível prescindir   deles.

3- A ideia de obedecer regulamentos assusta. Qual o motivo de tanta resistência?

Gloria - Isso acontece porque somos filhos e netos dos anos 60, a década que rompeu com valores machistas, preconceituosos. Porém, o fato de termos lutado contra o autoritarismo e a hipocrisia não quer dizer que agora vale tudo! Sem educação não há civilização. O problema é que as famílias modernas sentem-se desconfortáveis, pensando que educação é repressão... e é mesmo. O papel dos filhos é reclamar e achar os pais uns chatos. E o papel dos pais é serem chatos, ora! Cabe a eles repetir mil vezes, até que a criança aprenda, que não pode comer de boca aberta nem falar alto nem devorar toda a batata frita. Tem que dividir com os outros. Senão, quem chega na frente come a melhor parte - esse é o princípio da barbárie. Eu não tive filhos, mas certamente seria uma mãe insuportável... (Risos)

4- Qual é a principal regra da etiqueta moderna?

Gloria - Prestar atenção no outro. Quem só olha para o próprio umbigo não está apto a conviver. E atualmente isso é muito comum, o narcisismo virou um problema social.

5- Acaba interferindo também nos relacionamentos amorosos...

Gloria - O drama é que uma tribo não faz concessão a outra e aí os relacionamentos ficam difíceis. Está cheio de mulher que olha o cara e, se não gosta do sapato dele, não se dispõe a conhecê-lo... Para escrever o capítulo sobre casais, encomendei uma enquete à equipe do meu site. No resultado, ficou evidente um problema de código: mulher adora moda e homem tem horror ao estilo fashion. Isso gera curto-circuito na comunicação. Teve um cara que reclamou. Deu um vestido de presente para a namorada e ela estreou a peça com botinas e uma jaqueta de jeans rasgada. Ele considerou um ultraje.

6- O que aconselha para evitar desencontros desse tipo?

Gloria - Que a mulher não fique presa ao seu mundo. Se quer agradar a um homem, no mínimo precisa fazer um pouco de esforço para entender o universo dele e se comunicar.

7- Podemos tomar a iniciativa da conquista?

Gloria - Não! Muitas mulheres ficam chocadas quando digo isso, acham que é coisa do século passado. Mas eu insisto: está interessada nele? Então não o procure. Esse não é o momento de mostrar o quanto você é independente, e sim de observar o funcionamento dos códigos de sedução. O fato é que o homem continua gostando de conquistar e a mulher de ser conquistada. Se ela correr atrás dele, ele correrá dela.

8- Duas saias justas: o fim do namoro e o reencontro com o ex. Como lidar com elas?

Gloria - Qual é a melhor hora para quebrar a perna ou levar um fora? Isso é da vida, não há livro que resolva. Se for abandonada, não vá perseguir o sujeito nem encha a paciência dos outros contando mil vezes a sua história - melhor amargar sozinha. Separação é como gripe: tem um ciclo, dói, depois passa. Caso dê de cara com o ex e a nova namorada no restaurante, nada de fazer cena.

9- Hoje é comum uma mulher perguntar a outra se aplicou Botox, fez plástica... É de bom-tom?

Gloria - É péssimo! A plástica, sobretudo, devia ser abordada com o mesmo pudor dos assuntos ginecológicos. É íntimo demais, ninguém tem de ficar bisbilhotando. Claro que amigas trocam segredos e podem até ir juntas aplicar Botox... Mas como você se sentiria se uma conhecida qualquer perguntasse o preço do seu sapato, por que você engordou ou se fez preenchimento de rugas? Em geral, pessoas invasivas adoram falar dos seus tratamentos, mostrar o silicone. Aí, é o problema contrário, você fica naquela situação horrível: "Não, querida, eu não quero ver o seu peito..."

10- Num almoço, tudo bem se você atender o celular?

Gloria - Se estiver aguardando uma ligação urgente, melhor se desculpar com seu acompanhante, ser breve na conversa e desligar o aparelho assim que resolver a pendência. Outro dia, vi duas moças num restaurante - uma almoçou enquanto a outra ficou no celular o tempo todo. É o fim da picada, eu teria me levantado da mesa.

11- Como os fumantes devem se comportar para não perturbar nem ser perturbados pelos outros?

Gloria - A não ser que você more em Paris - onde todo mundo fuma em qualquer lugar e ninguém dá a mínima -, tem que pedir licença e perguntar se incomoda. E agir de acordo com a resposta, claro. Por outro lado, quando é você a anfitriã fóbica e recebe um amigo fumante, é possível, delicadamente, sugerir que ele acenda o cigarro na varanda. Mas, se for um convidado de muita cerimônia, desista. Abra as janelas e pronto.

12- Existem normas que ajudem a mulher a ficar segura em situações variadas?

Gloria - Sim, e também proibições (veja o quadro). Mas etiqueta não é um exercício de memória, não se trata de decorar regras, e sim de entender o espírito da coisa. A ideia é facilitar a vida e as relações, nada a ver com complicar ou esnobar.

13- Eventos especiais sempre trazem dúvidas. Qual o segredo para fazer bonito na festa?

Gloria - O fundamental é identificar o tipo de rito, o que é valorizado naquela situação. Suponha que o convite peça traje social completo e você decida ir de jeans. Se está convencida disso, tudo bem. Porém, se vestiu a roupa errada porque não entendeu o convite ou não prestou muita atenção nele, vai se sentir a última das criaturas e acabar perdendo a noite. A segurança aumenta à medida que você vai dominando as normas. Até para desobedecê-las, se preferir.

14- O que uma mulher precisa saber para receber bem?

Gloria - Que o bem-estar dos convidados é mais importante do que ter o copo certo. Também é bom lembrar que não se convida desafetos nem um casal recém-separado para uma recepção íntima (em festa grande pode, mas sempre é melhor avisá-los antes). A partir daí, existem mil possibilidades. É besteira se estressar porque quer fazer um fondue para um pequeno grupo de amigos e não tem o aparelho. Peça emprestado a uma amiga ou alugue. Aliás, outro amigo pode trazer aquele queijo ótimo, você serve as bebidas, a conversa engata e dá tudo certo. Não se esqueça de colocar flores na casa e vestir uma roupa bonita: é carinhoso demonstrar que se preparou para receber as pessoas. A situação muda em um jantar para 20 convidados. Nesse caso, é melhor contratar uma copeira ou um bufê com serviço completo do que ficar correndo de lá pra cá, mostrando que está tendo o maior trabalho. Aí você nem aproveita a festa nem atende seus convidados direito.

15- O problema é querer dar o passo maior que a perna?

Gloria - Não funciona alguém tentar aparentar o que não é - isso é pura exterioridade, enquanto a segurança é uma condição interna. Mas que ninguém se engane: a segurança depende de a gente se sentir aceita pelos nossos pares, as pessoas que valorizamos, sejam elas super tradicionais e cheias de cerimônia ou artistas informais. Você pode ser indiferente à opinião de um determinado grupo porque a sua turma é outra. Mas, se você se sente a tal em detrimento de todo mundo, não é segura coisa nenhuma, é louca. Nós precisamos da aprovação do outro e vice-versa, daí a necessidade de prestar atenção no ambiente, nas pessoas, roupas, conversas. Tudo ajuda você a entender melhor a situação e a ficar mais à vontade.

Ela diz que não pode! No Trabalho - Transformar sua mesa em um altar pessoal (fotos de família, latinhas coloridas, bichinhos). - Cara feia. - Abusar do uso de roupas em tons pastel: infantilizam e dão ar de fragilidade.

No Restaurante - Tentar furar a fila de espera. - Tirar os sapatos debaixo da mesa. - Utilizar as seguintes palavras e expressões que começam com d: dieta, doença, depressão, dureza, diretrizes políticas, doutrinas religiosas.

No Casamento Se você for madrinha ou convidada: - Usar preto no altar. - Competir com a noiva (vestido de cauda, decote até o umbigo etc.). Se Você for Noiva: - Fazer do seu noivo uma peça de decoração (o terno combinando com seu buquê, por exemplo).

No Relacionamento - Falar mal do ex. - Comentar numa roda idiossincrasias (roncos, hábito de ler no banheiro...). - Desmentir o parceiro em público. - Fazer voz de criança.

Fonte: Revista Cláudia